diário de uma auxiliar


01 – Março – 2015

Queria que a vida me sorri-se mas agora só quero que a vida sorria para os outros. Deixei de pensar em mim quando comecei a lidar com vidas, vidas essas que dependem de mim e de toda a equipa com quem trabalho.
Se já dava valor a coisas simples passei a dar muito mais valor agora, ao sorriso, ao toque, á forma de falar, á postura.
Pois isso faz a diferença a quem está doente ou a precisar de cuidados. Quando me dizem que não acreditam em milagres eu agora digo que deviam ir visitar o hospital, transformamos pessoas tristes em alegres, tiramos um pouco da dor que sentem por breves momentos, vemos e fazemos parte da evolução deles e isso sim, são verdadeiros milagres.
E quando um deles parte, metade de nós vai com eles! Ajudar é um dom e eu tenho a sorte de trabalhar no que me move.
E se aceito as rotinas puxadas, horas em dormir, o horário trocado, e o corpo exausto é porque todo esse esforço vale a pena.


Mudar a vida de alguém, muda a nossa para MELHOR!


02 - Março - 2015


Quando reconhecem o nosso trabalho é fantástico e hoje foi assim! Uma senhora veio nos agradecer por tudo que fizemos com o seu marido, pelo carinho, pela atenção, pela disponibilidade e sobre tudo pelo profissionalismo. Ler estas palavras deixadas num postal é bom, mas ouvir da própria pessoa é bastante melhor. Há milagres que acontecem todos os dias onde trabalho, somos uma espécie de anjos da guarda e somos reconhecidos e valorizados. São pequenos gestos deste que fazem uma diferença enorme. Dá-nos vontade de fazer cada vez mais e melhor!



17 - Março - 2015

Há laços que se criam no trabalho que faço, por muito que a ética diga que não é aconselhável criarmos laços com o doente, a meu ver e quem te um coração como eu é impossível não criar laços.
Por vezes os doentes mais complicados são os que se criam bons laços além de profissional/doente, passamos a ser “apoio”!
E foi isso que acabou por acontecer comigo, durante três/quatro meses fui ( eu e tantos outros) o apoio de alguém que acabou por partir.
24 horas sobre 24 horas cuidávamos dele, vi os progressos, as regressões, novamente os progressos, os pequenos gestos que de algum modo agradeciam o que ali estava a fazer.
O meu coração perdeu um bocadinho de brilho, mas sei que o céu ganhou uma estrela bastante brilhante que vai fazer as noites mais bonitas ainda.
Há o lado bom da profissão e este lado menos bom, mas que de algum modo faz ver que realmente abraçamos o que gostamos e fazemos cada dia melhor.
Há doentes que marcam de várias formas, e que nos tornam pessoas melhores.


4 - Maio - 2015


Já não escrevia desde o dia dezassete, sinceramente? Não tinha motivação. Adoro o que faço mas detesto quando tentam passar por cima das pessoas só para parecer bem. Honestamente gosto de trabalhar num local onde haja harmonia, onde lutamos todos pelo mesmo, onde não há "guerra" só porque sim ou para parecer bem. Ultimamente parece que sou uma "ameaça" , sou nova, sim é verdade , errar é humano, mas eu vou evoluindo diariamente. Adoro o que faço, a minha profissão, mas quando não há um bom ambiente ou sinto que não está bem é tudo diferente. Bem fui fazer um turno á pediatria ontem ( o meu local de eleição para trabalhar como já sabem), e se há coisas que me marcam são pequenos gestos, era dia da mãe e um pequenote veio me perguntar se eu era mãe e eu disse que não, e ele muito sorridente dá-me um abraço e pergunta se queria ser a mãe dele - isto dito por um menino de quatro aninhos. As lágrimas correram-me pelos olhos, talvez pela vontade de ser mãe, por adorar crianças ou por andar numa fase emotiva. Precisava daquela força extra, daquela motivação, daquele toque!
Foi talvez o gesto mais bonito que alguém me fez, se tinha dúvidas que era boa pessoa, ou que não sabia bem por onde andava, isso mudou!  


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